Lapso

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Pudesse eu asfixiar-me num cofre escuro e derramar o meu corpo dentro desse nada que não quero ...

Pudesse eu rasgar a minha pele e devolver todo o brilho aos teus olhos, pintá-los de mar e um sorriso que nunca voltarei a ver ...
Pudesse eu quebrar-me em estilhaços de gestos que continuo a repetir numa dança mortífera para o espaço que ocupámos na pauta da melodia que escutámos num abraço que não precisou de ser dado para ser sentado ...
Pudesse eu resgatar a generosidade que escavei dentro das entranhas da terra enquanto te senti no meu ombro a alimentar o sol que me acorda ...
Pudesse eu morrer e restar apenas um corpo cadáver numa caixa esquecida ...
Serias feliz, assim?
Sei que não ...
No meu caixão não há ninguém
Lá fora posso encontrar
Meu sonho é não acordar no fim


Toque

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Apoia a cabeça na mão. Sente a pele quente. Morna, dura. Doente. Os olhos parecem remetidos à insensatez de nada querer ver. A garganta há muito se desfez num nó cego surdo mas sobretudo mudo. Lateja com aspereza, ecoa na testa que também há muito implora repouso. Suspira. O mal-estar trouxe a irritação e o rugido de quem apenas se habituara a estar só.
Pensou. Doía pensar. A clarividência da desculpa. Veio lenta mas certa e firme. Parecia que os adeus insistiam na janela do seu corpo, mas havia agora uma pequenina luz. Fraca. Como ela. Palidamente, a luz inundou o corpo partindo de dentro. Não era calor febril, era luz. Não doía ... tremia de receio. Outra vez.
No filme que persistia nos olhos cansados, sempre a mesma cena. Encenada à exaustão, repetida no cantinho do desejo que não amadurece nem cai nem sacia a fome como o faz a fruta ao sol quente de verão. Até haver a luz, luzinha, luzeiro, reluzente e demasiado forte. Apenas forte, tão forte, que a quis agarrar até as mãos suarem e ainda assim continuar a segurá-la.

Só o medo vem ... trouxe nuvens. Só a mão persiste ... tem medo. Só o coração a trai ... a mão persiste. Largo o medo, largo o sorrigo, largura ampla que apenas no nome que ecoa tem incerteza. Certo o toque. Que fica. Queima. Assusta.
Pousa o queixo na mão. Fecha a febre, abre os olhos. Quer dormir ...

E aparece assim
Acendeu-se a luz
Estão vivos outra vez


Simplicidade

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Já o tinha visto antes. E já antes me tinha cativado com um sorriso doce preso a um corpo enorme e proporcional à amplitude da sua doçura.
Hoje sentei-me nas lajes a vê-lo trabalhar. Vi-o esforçar-se por que cada centímentro deixado à sua suserana mercê ficasse o mais radiante possível. Sempre com um sorriso escondido em cada gesto. Um olhar manso e muito grande, capaz de abraçar todos com um pestanejar largo. Vi-o dedicar-se a todos da mesma forma, quer lhe falassem bem, quer o ignorassem, quer se deixassem confundir pela honestidade e simplicidade da sua profissão, quer o ameaçassem veladamente com um sobrolho demasiado impuro para o assustar. A todos esbanjou sorrisos. Parcas as palavras, compensadas na franqueza das enormes mãos hábeis e delicadas, hábeis e dedicadas.
Voltei lá. E quase que percebi. Quanta gente tem a possibilidade de ver o arco-íris todos os dias? Quantos terão o poder de poder chamá-lo como companhia durante as horas de trabalho? E quantas se apercebem dessa rara beleza ao alcance de umas mãos acompanhadas de um sorriso que se espraia incontido?
Não lho consegui dizer.
Mas percebi que ele não precisaria das minhas palavras para o sentir.
Os elementos que gritem
E a matéria se revolte
E quem mais puder que (me) ajude
A dar novo brilho ao sol


Sabor

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Há luzes a pairar, minúsculas e quase leves. Ando na calçada choviscada a amar a chuva como só a ela consigo. E acendem as luzes, abraçadas às árvores, apenas envolventes de troncos cheios de fumo e de casca podre. Mas as luzes brilham por entre a cinza de chuva, quase que não sinto os pés escorregar. É a minha rua, sei-a de olhos fechados, números pares e ímpares. Tu e eu, ambos ímpares, em tudo. É a minha rua, mas parece-me vestida de pequenos bosques em cada casca, parece-me encontrar luz em cada recanto sujo. Reflectida nas pedras, nos carros, e quase canto, quase te canto.
Sabe a novo esta chuva. Dirão que a água lava os pecados, dirão que a água limpa a alma, digo que a água escorre para mim pelas lâmpadas acesas, desce por mim até morrer no chão. Sabe a inverno, sabe a pedras. E sabe a luz, que ilumina o teu rosto.
Pálidas e tremeluzentes, devem estar quase a apagar. Mas ficam cá. Dentro. À minha espera. Mágicas e doces. Tuas.
Chego à tua porta. Quase que te chamo. Afinal sento-me. A ver se vens com a luz das estrelas ...


Como a razão que nos leva
Para bem longe daqui
O vento traz a desordem
E o tempo sopra por ti


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  • de eu vim de outra esfera
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