Clareza

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Apesar de ser puro, o ar da manhã tolda-lhe o raciocínio. É na noite que se perde e reencontra. As asas, esteáricas qual Ícaro, ganham textura na galopante noite citadina, fundem-se nas luzes trémulas. De noite, as asas ganham a luz que o dia ofusca.

Nem o cansaço nem a escuridão, nem o frio nem a dormência, nem a trégua nem o tempo, nem a força nem a estrada. Nada importa, só a luz que irradia dos olhos fechados, que são as asas a voar para muito longe. Aqui ao lado. Aqui sentada. Sorri. É ela sim, aquela que sorri. Aquele farrapo humano, que voa, enquanto o autocarro tenta mudar de faixa. É ela, aquele agregado de olheiras e cansaço, aquela maria, isabel, rita ou clementina, aquela sarda gigante, aquele par de asas. Neste momento, enquanto alguém escreve, as asas riem da candura dos hemisférios. Nada, nem ninguém, poderá algum dia cheirar o fim das velas a arder.




Ícaro, invejoso, sorri do alto das suas torres. E pasma.





Agarras-te à hora
Em que o tempo não passou
Mergulhas nas cores
Que a loucura te emprestou
Quando te vês para lá do espelho


Encontras a solidao
Descobres o mundo
De quem tem pouco a perder
E sobes às estrelas
Que ontem não podias ver
Perdes o medo de estar só
No meio da multidão


Aviso

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Embrulhara cuidadosamente o tempo que acordara numa brisa lenta. Tinha tecido uma manta de retalhos de ideias, pensamentos e entrelinhas.
Encostou o ouvido ao tempo, e ouviu-o passar e escorrer em soluços cadentes.
Anteontem, ontem, anteontem, ontem, hoje. Sempre a mesma batida, nesse sempre desfeito em pedaços de luz que só ganha vida quando estilhaçada. Esboçou um esquisso de sorriso.

Saiu para o coração da cidade, afundou-se numa cinza velha e pálida, mas sentiu-se vivo e renascido, possuía o tempo. O poder do tempo era realmente o supremo de todos. Encontrou as crianças que hoje são velhos enrugados e torcidos pelo tempo que se escondia no tecido. Antecipou as rugas nos rostos de recém-nascidos de daqui a anos. Em ápices quase escandalosos juntou e separou amores e ódios, rugas e lágrimas, abraços e lutas.

Estátuas à velocidade da luz, pensava enquanto as reduzia a pó. Reconheceu os seus pais, e antes que pudesse perceber ou antever, encontrou a sua lápide a sul da morte. Datava o dia de hoje, morrera sem o saber, e a cidade permaneceu, cinza, morta. Perene.


Pensas no passado mal passado
E em tudo o que em ti corrompeu
Mas enquanto tu vias o filme errado
Fui eu quem morreu
Já sei que sabes
Que a vida corre
E que amanhã não há amanhã
Mas enquanto tu pensas em tudo o que morre
Eu ranjo no meu divã


Travessia

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Entrançou o sorriso. Esqueceu o sono que colava as pálpebras e desafiou a manhã. Sempre gostara da noite e temera as manhãs. A madrugada sem a noite parecia fúnebre e impensada, inconsequente e despojada da magia do fumo nocturno.
Deixou o frio salpicar-lhe o rosto, roer-lhe a pele, enquanto se nega ao sol que há-de vir.

A viagem não é longa. Perde-se apenas na contemplação dos rostos que ainda dormem enquanto conversam sobre as vidas e as madrugadas.

Quer a noite, e enquanto se ajeita na dormência da rotina uniforme, abre o sol. Abre os olhos e espreguiça-se. Afoga o sono em café quente. Compõe o sorriso. Chega o sorriso. Abre os olhos e os braços. É este o dia, o dia bom, a manhã é boa. Enquanto o azul a fizer perder o sono.

às vezes o nosso amor adora
morrer
pra voltar e voltar
a correr


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