Reverso

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Nunca tinha reparado como as lágrimas se acumulam nos cantos dos olhos antes de cair. Nunca tinha reparado que desenhavam traços meigos na pele do rosto, enquanto deslizavam para a queda. Nunca tinha reparado que o quente escorria como se fizesse uma festinha sincera, nem que os olhos ficavam brilhantes a ponto de um oceano de sal os cobrir inteiramente. Tinha estado a chorar para dentro, com as lágrimas a perfurarem a traqueia e caírem bem fundo no coração, salgando o sangue.

Sento-me em frente ao espelho. Só vejo o quente que finalmente se desprende, tranquila e furiosamente, por fim. Engulo as palavras, trituro-as. Não consigo.
Puta que pariu a distância e a merda em que te afundaste no passado, que eu não tenho nada a ver com isso, grito, finalmente. Brado aos azulejos que te amo e te odeio tão profundamente que nunca mais te quero ver. Quase parto o espelho por esmurrar o meu reflexo, que amo tanto quanto me odeio a mim, por ser incapaz de pegar nas minhas pernas e correr toda a noite que aí vem só para te abraçar. Puta que pariu a distância, repito. Puta que pariu a merda dos teus medos e das tuas inseguranças, que tu, e só tu, quiseste que fossem mais forte que este vento e essa seta que não vivem um sem o outro, e estão bem mais longe do que nós.
Aprumo-me. No fim, continuo a ter de sorrir, fazer dois pontos parêntesis direito. Quando o que me apetece é pura e simplesmente quebrar, partir, dormir. Mas é este sorriso com os olhos brilhantes que distribuo. Serão esses abraços convictos que irei dar, sonhando sempre que será a ti que irei abraçar. Sei que não...

Voou para Barcelona
E deixou solidão


Abrigo

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Braço. De ferro. Feito de pele e suor. O sal não se pesa, não se distrai.
Não chove. E por isso é seco o adeus e engolido numa noite insone. Porque não chove, e o barco não estremece, não ruge nem gane com medo de se voltar e ser devorado vivo pela mão trémula cujo adeus se desprende apenas para ser novamente contido.

É uma barcaça, meia de madeira meia de tecido vivo, metades feitas de palavras e qualquer coisa mais que nunca parece ser suficiente.
E o enjoo, o enjoo de não chover, o enjoo de ser um leme tosco e distante, de ser apenas um braço a dobrar. Da calma que apenas esconde a tormenta. O enjoo de não haver enjoo, o medo do enjoo. A viagem, para onde?

Não chove. Braço, de ferro. Ganhar, perder, fechar, olhar, temer. Pedir a chuva, dançar para ela. A sós. À espera do braço abrigo porto seguro luz dormente segurança.


Vem, chuva, vem
Molhar os meus sentidos
ressentidos da poluição
Vem, chuva, vem
Leva-me do peito
a saudade e a solidão
Vem, chuva, vem
Lavar os meus cabelos
e os dedos amarelos do fumo
Vem, chuva, vem
Encher a maré,
dar movimento a este barco sem rumo

e há cá dentro uma falta imensa
de não saber o que dói
e quando dói


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  • de eu vim de outra esfera
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