Capital

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Tragam outro copo à mesa do meio. Tragam mais lenha para a fogueira onde se imolam os corações mortos. 
Aliás, nem vale a pena, deitem apenas as cinzas sobre a toalha e atirem-mas pela janela ... eu mesma me encarrego de as deitar ao oceano.
Mas não me tragam sal. Esse, chega o meu.


Só por enfrentar 
Só por destruir 
Tenho as chaves do céu e do inferno 
Deixo o tempo decidir


Pormenores

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Era de noite. Mas podia ter sido de manhã. Tal como o frio que estava podia facilmente ter sido substituído pelo calor ou pela chuva.
Era de noite, mas a luz infiltrava-se em cada poro da casa, deixando as paredes incandescentes, quase quentes. E era uma luz quase imperceptível ao olho humano, um calor quase feito murmúrio ao toque da pele. 
Era a noite da absolvição. Lentamente, ele foi buscar o baú que tinha encerrado em si. Todas as noites seriam repetidas hoje. Todos os olhares, todas as palavras, todos os sorrisos, todos os silêncios. Seriam repetidos hoje, em silêncio quase ofegante. Por eles. Tudo o que lentamente afundaram na pressa do esquecimento, tudo o que prontamente negaram, todo o brilho que sempre os uniu e que tentaram apagar.
Ela pegou no baú, sentiu a palpitação no seu interior de papel. Que podia não ser papel. Ao primeiro chiar das dobradiças, hesitou. Contou baixinho o tempo que demoraram a enche-lo, e ele acompanhou-a com o olhar, sempre soube as suas palavras antes de perceber que as conhecia. E também ele contava o tempo. Tempo demais para o teres suportado, tempo de menos para o terem esquecido.
Abriram-no. Não foi o momento mágico que se lê nos livros ou se vê nos filmes, não foi um momento lento e de grandiosidade. Antes foi simples, puro, gracioso. Formou-se um arco do triunfo sobre eles. Materializou-se o baú, que não era senão uma metáfora que ambos criaram durante uma das noites em que se olharam sem falar e se prenderam em esferas e vírgulas cor-de-nada. E ficaram ... sem palavras, sem se tocar, mas esta noite, dormirão abraçados, dentro do baú e sob o arco do triunfo iluminado pelas paredes. Ainda que não o saibam, apenas o sonhem.

Como eu, ninguém esperou
Como eu, e acreditou
Que tudo se pode perdoar
Só à força de te amar
Sentir o amor escapar
Por entre os beijos fugir
Por entre as mãos escapulir
Como eu


Apatia

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Entrelaçou os nós dos dedos na ânsia de se lhe esvair o sangue do peito. A cidade arrotava movimento e os passos ecoavam na cabeça como se nada mais houvesse num tempo parado.
Pegou na mochila e sentou-se na cancela preta e amarela onde os dias se tornam quentes e os passos cansados descansam. Era de tarde, como de tarde se sente a vontade de voltar para casa. O céu rasgou-lhe o ar enquanto se despedia da luz, e os faróis dos carros brindavam-se mutuamente num eco trémulo. Perpétuo movimento, pensou, enquanto se permitiu sorrir... como teria apreciado uma fotografia daquele perpétuo movimento.
E quando o sorriso ganhou força, os olhos quiseram fechar-se para não ver. As mãos dadas. Fugidias, contentes e cúmplices. As mãos dadas, as mãos dadas e nenhuma era a sua. O sorriso morreu ali. Nem uma palavra, nem um aceno, nem um cumprimento, o nada de parte a parte. Apenas o vazio. E um sentimento de dormência esfarrapada e condoída. A história nunca acaba, e quem disse que nunca se repete?



não disse nada
porque nada havia para dizer
amordacei as horas por preencher

não disse nada
porque nada havia para dizer
eventualmente o peito deixa de doer


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