Crepúsculo

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Há um caos redondo e imperfeito a asfixiar a cidade dos abraços. Caem espessas névoas de saudade, transformam a noite em sufoco de saudade e fome. Há um abandono morno e confuso, lamentos e gemidos, e falta de abraços.
Uns dizem que o tempo se esgota nas memórias rendidas, outros clamam à âncora do passado que os venha resgatar. Todos sabem que é cinza e pó o luto que não lhes dá sentido à dor.
Mãos apertam-se e cicatrizam-se numa esperança vã, os braços já nada podem contra o fim dos abraços, as vozes ecoam em surdina pasma. Um nada apoderou-se de todos os habitantes, rasguem as vestes e dispam-se, o tempo não pára, o choro não pára, a dor não pára. Abrandem as lágrimas e o sal que vos escorre, aqueçam-se de abraços finais, diz o profeta, o fim está perto.
Cala-te, dizem-lhe. Que morras sufocado nas tuas blasfémias vãs.

Há um caos redondo e imperfeito a asfixiar o que resta da cidade dos abraços, e a dor segue, feita em fogo e noite eternas a abraçar saudades que doem.


E o mundo só quis virar
A página que um dia se fez
Pesada
~ a toda a minha família citrina ~


Equilíbrio

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Enquanto ela dançava na escuridão, ele colhia o perfume luminoso da areia...

Perderam-se na certeza de um voo que arriscaram cedo de mais. Eram páginas carregadas de tinta de amor a escorrer ainda ensanguentada nas margens manuscritas, folhas soltas de poemas loucos furiosamente cravados para serem apenas deitados pela janela da torre da impossibilidade.
Abraçaram-se e recearam-se, descobriram a mudança da luz ténue que os cegava ao ruído das vozes de protesto, cativas no sempre do mesmo enredo.



Encontraram-se na fronteira aberta do medo, as mãos quentes guiaram-se na voracidade de espantar a solidão e encerraram-se numa só teia entrelaçada de dedos artesãos de ternura.
Chamou-os o medo à nascença para outra viagem, ao país das teias de cordão prateado que se infundem no corpo com a suavidade de uma gota de água a beijar a pele.
Conheceram-se pelo sorriso espelhado na mesma pele molhada.

Enquanto ela dançava no ouro da areia, ele colhia o perfume enfeitiçado do luar...


E é seres alma e sangue
E vida em mim
E dizê-lo cantando
A toda a gente


Viagem

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Puxou o saco a si e entrou no autocarro. Não era daqueles autocarros citadinos que tanto o inspirariam, se ao menos ele os deixasse falar daquela forma tão gritante e silenciosa.
Nem olhou para trás. Nada o pára. Só o comer quilómetros e distâncias, só o sair desta cidade, que nada é afinal que um sair de si mesmo.
Acolheu a sonolência de bom grado, recostou-se e apagou-se num sonho que não iria lembrar.

Era de tarde e o céu era aquele azul pálido que anuncia os dias frios que cortam os ossos e quebram nós de dedos. Não ia no autocarro, antes caminhava, veloz como o vento, afinal voava rente ao chão. Estava gelado, o azul do céu não o enganara. Ao invés de outras viagens, que valiam por si mesmas, esta nada contava, tinha apenas pressa de chegar. Não sabia onde, não haviam indicações, nem bússolas, nem constelações familiares. Apenas um azul mudo que lhe agudizava a solidão inerente que brotava em cada passo voado.
Nunca chegou. Nunca tinha partido afinal. Nunca estivera fosse onde fosse. Nem existia sequer, era um ponto de nada a fingir que tinha corpo.

Acordou com o travar repentino e ruidoso. Não havia ninguém à sua volta. E sentiu-se tão só que desapareceu no meio dos restantes passageiros que se apressavam nas filas para o café.


Paro de andar
Paro para te ouvir
Paro pra ver se é bom pra mim
Se é melhor que uma vida tão só


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  • alter-ego Green Tea
  • de eu vim de outra esfera
  • pessoa pensante cheia de ideias e dúvidas
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