Puxou o saco a si e entrou no autocarro. Não era daqueles autocarros citadinos que tanto o inspirariam, se ao menos ele os deixasse falar daquela forma tão gritante e silenciosa.
Nem olhou para trás. Nada o pára. Só o comer quilómetros e distâncias, só o sair desta cidade, que nada é afinal que um sair de si mesmo.
Acolheu a sonolência de bom grado, recostou-se e apagou-se num sonho que não iria lembrar.
Era de tarde e o céu era aquele azul pálido que anuncia os dias frios que cortam os ossos e quebram nós de dedos. Não ia no autocarro, antes caminhava, veloz como o vento, afinal voava rente ao chão. Estava gelado, o azul do céu não o enganara. Ao invés de outras viagens, que valiam por si mesmas, esta nada contava, tinha apenas pressa de chegar. Não sabia onde, não haviam indicações, nem bússolas, nem constelações familiares. Apenas um azul mudo que lhe agudizava a solidão inerente que brotava em cada passo voado.Nunca chegou. Nunca tinha partido afinal. Nunca estivera fosse onde fosse. Nem existia sequer, era um ponto de nada a fingir que tinha corpo.
Acordou com o travar repentino e ruidoso. Não havia ninguém à sua volta. E sentiu-se tão só que desapareceu no meio dos restantes passageiros que se apressavam nas filas para o café.
Paro de andar
Paro para te ouvir
Paro pra ver se é bom pra mim
Se é melhor que uma vida tão só
podes.