Estendeu o braço sobre a almofada. Caiu-lhe o sono das pálpebras, derramou-se o corpo entre os lençóis com medo do dia e da luz que esperam no amanhã que não se quer. Abraçou a almofada num último esforço infrutífero, o sono tinha saído e fechado a porta do quarto. O relógio não parou e no escuro o vermelho não rouba a luz às estrelas.
Suspendeu o gesto, não precisava de mais luz.
Suspendeu-se a si mesmo, inerte no tempo que o ultrapassava. Ouviu-se a respirar, ouviu o roçar dos pés nus no lençol, ouviu o vento beijar-lhe a distância. E ouviu o relógio avançar. Quase que ouviu o sono voltar, mas a
percebeu-se que sonhava acordado, com a almofada entre as mãos. Passou as mãos pela cara, quis saber se era real, se bem que nunca se sentia real de noite. E sabia que era de noite que era mais real que alguma o vez o seria na claridade aberta do dia.
Fechou os olhos e deixou-se inundar de formas e cores, carregou nos olhos para se sentir deslumbrado por ver de olhos cerrados quadros dignos de museus que apenas visitara por fotografias a preto e branco.
Fechou o corpo, abriu os olhos, e no escuro e vermelho tudo lhe pareceu flutuar. Se pudesse, tinha tirado uma fotografia, daquelas que o tempo se encarrega de ir fazendo esquecer.
E se tivesse pousado os olhos mais suavemente, e se tivesse afastado a almofada, teria visto que do outro lado da cama, os lençóis estavam docemente enrugados. E se tivesse visto, teria sentido o calor.
Quase larguei a dor
Quase perdi
Quase morri
Dentro de mim
Fiquei totalmente colada ao texto :) Gostei muito e vou começar a fazer visitas semanais, se me permitires.
Beijos*
Obrigada
Se te permitir? Disseram-me que o espaço existe para ser ocupado, e este não é excepção :)