Duplicidade


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Lembrar-me? (?)



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Acendeu o cigarro e sem ver, olhou o fumo que dançava contrastado com a escuridão. Aspirou lentamente a morte no silêncio quebrado por pequenos sons de nada. E o nome a latejar, sempre, espreitando pelas muralhas rasgadas pela insónia à espera de ocupar o seu devido lugar. "Curioso como os nomes se repetem na nossa vida", pensou enquanto saboreava a sua amarga presença.
Só o roçar do corpo cansado nos lençóis e a respiração lenta a fazia ter a certeza de estar acordada, e sabia-o bem. Sempre o nome. "Boa viagem", pensou, ao sabê-lo de partida. Se bem que já tinha partido há quarenta e três dias. Se bem que nunca tinha verdadeiramente chegado. E o sufoco da lampejante verdade esfriou a noite, o quarto, o corpo, e só quis entregar-se ao sono e esquecer o amanhã.

O sol acordou-a tarde ... foi gentil e cuidadoso, suave e estendeu-lhe um doce abraço. Esfregou os olhos como as crianças, pulou da cama e foi viver. Sorrisos distribuídos quase gratuitamente, apenas a custo de reciprocidade. Trocou palavras, acenou versos e rimas como se a noite se tivesse apagado de si com a velocidade de um beijo fortuito. Rodopiou na realidade e ergue-se acima dela. "Boa viagem", pensou, quando o imaginou na estrada a caminho da distância por percorrer. E sorriu, estranhamente genuína. A leveza das palavras dissolveu-se num suspiro que tombou o passado e fez o presente estender-se à sua frente.
E soube que não era ele o único a viajar, também ela tinha iniciado a sua caminhada ... e esperou pela noite.


Eu fui ao fim do mundo, vou ao fundo de mim

(fotografia de Gonçalo Ribeiro)


9 opiniões sobre o crime “Duplicidade”

  1. Anonymous Anónimo 

    Gostei, sem dúvida.
    A moleza induzida ao longo do dia pelo calor impede-me de masi palavras, por agora...
    Até.

  2. Anonymous Anónimo 

    Viagens... Dizem que a viagem começa no momento em que se começa a planear o caminho, não apenas quando se tem um destino definido para chegar.
    A Felicidade por exemplo é um caminho a percorrer e não um destino como disse um outro alguém.

    Mas as verdadeiras viagens fazem-se dentro de nós, e essas são imensas e infinitas... Nunca ninguém conseguirá impedir uma viagem que começa dentro de nós... E por vezes viajamos acompanhados...

  3. Anonymous Anónimo 

    :D repara onde pus a minha viagem de ontem (?) acabadinha de sair :D

    viagens dentro de nós, sim, percursos em aberto para descobrir, construir, voltar, perder e encontrar. é certo. talvez confiar, talvez perder, mas sempre caminhar, ainda q parados, sempre. vamos onde?

    acompanhados??? acho q atingi, mas prefiro esperar pela tua confirmação (hehehe)

    (é bom ver-te noutro post)

  4. Anonymous Anónimo 

    Viajar sem saír do mesmo lugar, abrir as asas da imaginação e conseguir percorrer todo o infinito e encontrar a linha que divide o horizonte... talvez uma meta inatingível, porém nunca acreditaremos em tal facto e continuaremos sempre a viajar incessantemente para a encontrar...

    Quando nos apercebemos que a caminhada começou já andámos alguns metros, talvez mil, talvez mais... algum dia chegaremos ao fundo de nós?

  5. Anonymous Anónimo 

    talvez mil, talvez mais, talvez menos ... a linha q divide o horizonte é sem dúvida inatingível ... mas está mesmo aqui ao lado, e atrai-nos, puxa-nos, quase nos enfeitiça ... nem todos se apercebem, mas tambem, nem todos viajam sem tirar os pés do chão.

    oh, o fundo de nós (isto soa-me vagamente familiar). e há um fundo? há um fim do fundo de nós? somos nós o fim de nós. tanto como somos o inicio ...

  6. Anonymous Anónimo 

    Procurar alcançá-la. Sempre. De que massa seriamos feitos sem um objectivo utópico para nos alimentar? Mais que o Sol. Bastante mais. Sentimo-nos atraídos quase sem razão, quase sem conseguir perceber... Mas não assusta... Pelo menos não assusta a quem tenta viajar voando, ou tentando voar...

    Há um certo misticismo no querer voar... Raras são as pessoas que vão responder, caso perguntes, que preferem não voar, mas raras também serão as que algum dia tentarão... Por vezes não basta apenas querer...

    Não sei se haverá um fundo de nós, mas como temos limites (variáveis, claro) também teremos um fundo, um poço mais profundo... Seremos sempre nós, com máscara, com ventos de tempestade, com estilhaços, seremos sempre nós... e ao mesmo tempo nunca o seremos...

  7. Anonymous Anónimo 

    assusta sim, e é nessa superação que nos regozijamos, nessa raia de medo e força que caminhamos, que os nossos passos se alinham e se orientam. claro q assusta, se assim n fosse, para que andar?? voar é bom, mas qd estás lá em cima e olhas para baixo, há o inevitável aperto no peito, e se eu caio? e se estou demasiado alto? e ses, sempre eles. mas sem eles não haveria adrenalina, não havia gosto nem sal nem doce...

    nao basta querer? pois nao ... o q basta?

    "Seremos sempre nós, com máscara, com ventos de tempestade, com estilhaços, seremos sempre nós... e ao mesmo tempo nunca o seremos..."

    não te consigo responder a isto

  8. Anonymous Anónimo 

    os ses fazem parte do voo, da queda, da possivel nova ascensão, nem conseguiriamos superar nenhum medo se eles não existissem... seriam apenas ciclos viciosos sem nada a perder, sem nada a ganhar... nunca voamos demasiado alto, assim como nunca caímos a pique... há sempre as mudanças de "ar", de velocidade... instantes, momentos, pedaços de silêncios perdidos... coisas que voltamos a reencontrar, que ficarão para todo o sempre connosco, embora muitas vezes (apenas) para nos relembrar como é bom voar e lutar, e tentar, e que tudo faz sentido...

    nunca nos basta, por muito que tenhamos tudo... como me disse uma amiga "deveriamos ser todos animais, era mais fácil"... somos seres insatisfeitos, o tudo nos parece pouco e o pouco nos parece tudo... não conseguiriamos viver de outra forma, uma eterna (in)satisfação... Agradeço todos os dias sermos seres mutáveis, com sentido de felicidade, com medo da derrota... não conseguiria sobreviver de outra forma...

    e os sonhos? O Sonho comanda a vida. Nada mais!

    *

  9. Anonymous Anónimo 

    nunca voamos demasiado alto?? nunca caimos a pique? voamos sim, e caímos sim. podemos é ter variadas formas de amortecer a queda (olhar para o lado, anestesiar, etc.), nunca nos queixaremos de voar alto demais.

    os reencontros ... oh os reencontros. são um pedaço do tudo que ontem era apenas isso, um pedaço.

    sim, somos eternos (in)satisfeitos, tanto como nos contentamos com restos e migalhas de vida. somos uns seres curiosos, capazes do melhor, e tb do pior ...e da indiferença perante estes opostos. animais? sim, chego a gostar mais de animais do q de pessoas ... são mt mais simples ... mas tb ... o que seria de nos sem complexidade??

    os sonhos ... permite-me escrever sobre isso durante a noite ... comandam a vida, sem duvida ...

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