Vertigem


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Lembrar-me? (?)



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O calor ameaçava ter vindo para ficar. Embaciava os olhos e turvava o raciocínio, esse exercício raro que lhe acordava o espírito. E foi nessa labareda que a parecia assar que acordou. Um banho rápido, um arranjar ainda mais rápido, aproveitando apenas a brancura seca das paredes para se encostar e respirar fundo. Mais um dia. Hesitou ... meio a custo, acabou por esboçar um sorriso.
Entrou no elevador, carregou no botão amarelo que a conduziria à realidade. Só se sentia no mundo quando a porta de vidro grande se fechava atrás de si, com um clang bruto que sempre a incomodava mas não o suficiente para a fazer acompanhá-la graciosamente com o braço.
Algo lhe chamou a atenção. Não soube dizer o quê ... talvez a descida estivesse a ser mais lenta, mas parecia-lhe que deslizava pelos cabos a uma velocidade muito maior, quase se sentia tonta.
Finalmente parou. A medo, que não soube explicar de onde tinha nascido, empurrou a porta grande e esperou que ela fechasse, amortecendo-a no fim.
Na rua, tudo na mesma. Mas onde ia ela buscar a sensação de estranheza? Até que percebeu. O coração batia desenfreado, quase lhe pareceu um ataque de pânico, num ápice, os carros ganharam velocidade e rompiam o ar num ruído feroz, o passeio flutuava sob os seus pés, e uma mão invisível empurrou-a com tanta força que a fez embater no chão pegajoso e pisado. O calor, sempre o calor. A luz, a luz feria os olhos, o corpo, tudo lhe doía. Parecia que o chão era ácido, era móvel, era estranho ao tacto. E no meio dos gritos mecânicos e inertes, a chuva e o silêncio.
Olhou em volta.
E então compreendeu ...
acordar é bom, mais fácil é dormir
[terceiro DESAFIO]
[desafio há muito respondido --> aqui]


24 opiniões sobre o crime “Vertigem”

  1. Anonymous Anónimo 

    Oi...passei por aqui para dar uma olhada.
    Adoro o que vc escreve. Bjs

  2. Anonymous Anónimo 

    É verdade... escreves muito bem :)
    Quando é que editas um livro? :P

  3. Anonymous Anónimo 

    Quando? Ahahahaha!!!

    Estás primeiro na fila xD

    (No(r)a, obrigado, valeu!?)

  4. Anonymous Anónimo 

    Sim, quando... Já o escreveste? :)

  5. Anonymous Anónimo 

    Não ... acho que não ... já o comecei, mas nunca o terminei.

    Não quero editar um livro, postas e ponderadas as coisas :P

    E tu? :)

  6. Anonymous Anónimo 

    O final de um livro... onde termina um livro? Não será o mais dificil de fazer? Largar as palavras ao mundo como se não nos pertencessem mais (entrando no espirito de um escritor era assim que eu me sentiria...), que o prazer de escrever é sempre continuar, começar, recomeçar, amachucar tudo e voltar a escrever... (ups, um delirio)

    Não queres editar um livro? Talvez não seja agora um objectivo teu... mas acredito que um dia pensarás nisso com convicção...

    Eu? Apenas muitos pensamentos soltos... Nada de muito feliz...

  7. Anonymous Anónimo 

    A questão é mesmo essa. As palavras são minhas! (ar de zangada, mas pouco, já a rir). Eu não escrevo, aliás, as palavras servem-se de mim para sair, e custa tanto, que não quero ter a noção de fim de algo. Não, porque não escrevo como os escritores, não amachuco, não edito ou trato o que escrevo. Sai como sai, como tem de sair, como é preciso naquele momento em que não escrevo por vontade mas por necessidade. Não sei o que é deitar palavras no caixote ou engavetá-las, não sei o que é procurar sinónimos, só em trabalhos científicos ...

    Não quero, por isso, submeter o que escrevo aos confins de uma capa e ao tamanho das páginas permitidas ou não. Além de achar que as minhas palavras não servem aos outros, são pequenas, desordenadas, confusas, não são bonitas e enfeitadas, não têm tranças doiradas onde se possam por laçarotes, nada disso. Poucas seriam as pessoas que veriam nelas alguma coisa que não desperdício de papel, francamente.

    Tu? Muitos pensamentos é prometedor. Nada de muito feliz? Quem disse que a escrita tem de ser feliz?

  8. Anonymous Anónimo 

    respondo-te aqui ao q escreveste no outro lado (fazer login e logout do blogger consecutivamente é cansativo :S)...

    pesado? pesado? isso tem alguma conotação negativa ou positiva? vou-me calar, porque n tenho nada a ver com isso :x

    já leste essa fantástica e originalíssima frase num blogzito engraçado que ainda aí na blogosfera ... é comum :)

  9. Anonymous Anónimo 

    E não escrevem os escritores (algo me diz que há aqui qualquer coisa redundante mas enfim...) por necessidade? Claro que com tratamento, revisão, conjugação de termos e verbos... Mas isso também o fazemos, inconscientemente mas fazemos... Porque nem todas as palavras saem conforme os pensamentos, por vezes saem adornadas, metaforicas (leva acento?), cheias, pesadas.... Engavetar palavras é uma expressão que nunca me lembraria (mas que vou utilizar se me permitires :P), realmente eu engaveto algumas, no baú, como costumo dizer (devaneio Pessoano) para um dia as ler, ou queimar, ou eternizar... não sei... parecem-me demasiadamente fortes para ficarem cá dentro e estranhamente minhas para as publicar nesta pequena teia...

    Não há fins... principalmente em livros e em palavras... (se não concordares alongo-me :P)

    Um livro é algo mais que uma capa e meia dúzia de páginas impressas, é mais que caracteres ordenados em sílabas, palavras, frases e parágrafos... Sabes bem que é... E as tuas palavras são sublimes (mas também tens noção disso) o que faria de mim um leitor de uma possivel encadernação delas... Logicamente que não agradariam a toda a gente... Isso é tipico do mediano... "O fantástico é feito para elites" (disseram-me há pouco tempo)

    Pensamentos toda a gente tem... A verdade é essa... Quase nunca escrevo em momentos felizes... É estranho mas é desta forma que as palavras me usam... :)

  10. Anonymous Anónimo 

    login e logout? Nem vou pensar no porquê... Tecnologias :P

    Tem uma conotação... tem, pois tem... Não era justo... Seria pesado escrever algo que teria mais de real do que ficção e depois tu completares... E se completasses o meu pensamento? Teria eu de rever a minha noção de "não acreditar em coincidências" ou teria de falar com o Tipo lá de cima?? :)

  11. Anonymous Anónimo 

    Ainda que adornemos as palavras inconscientemente (esta palavra tem para mim cada sentido :S) e as tornemos metafóricas (sim, é acentuada), não o fazemos por necessidade ou obrigação. O escritor por vezes terá de conceder espaços, vírgulas, espaços, aaah, não!
    As palavras valem o que valem no momento em que são escritas e lidas. Pouco mais, acredito. Daí as minhas serem apenas isso, apenas e só. É o que sinto através delas que realmente importa. Tambén quase não escrevo em momentos felizes, escrevo quando preciso, nem quando quero, olhar para o écran à espera de inspiração é uma tortura que não suporto.

    O fantástico não é para elites. Não acredito. Dá-me uns minutos para discorrer sobre isto...

    (vou buscar tabaco)

  12. Anonymous Anónimo 

    O Tipo lá de cima não necessita que fales com Ele, já te leu antes de tu dares por isso :)
    Mas podes falar

    até já :)

  13. Anonymous Anónimo 

    As palavras poderão valer o que valem... Mas esse valer é imenso. Na partilha dessas palavras com as "massas" há uma identificação diferente em cada par de olhos que as saboreiam... É essa magia que as palavras têm... Porque numa frase (conjunto de palavras portanto) cada um de nós poderá ler coisas diferentes... Um livro que não me faça viajar é um livro que nunca acabarei de ler...
    Penso que para conseguir escrever um livro, o escritor terá de domar algumas sensações, falar com, e para, as palavras e docemente conseguir que elas se organizem... O ecrã vazio assusta quando o pensamento é mais veloz que qualquer movimento... eu sei o que é isso :)

    O fantástico é para elites sim, o mediano agrada a toda a gente, é indiferente, é banal... (não confundir banal com simples) O fantástico (e falava nas palavras, mas podes adoptar para inúmeras coisas) ou se odeia ou se ama... Quase não há um meio termo!

  14. Anonymous Anónimo 

    eu sei que o Tipo lá de cima é perspicaz... Mas por vezes tem a ideia de escrever na diagonal... (já me basta quando escreve a direito...) É que dificilmente Ele endireita as linhas :)

  15. Anonymous Anónimo 

    De volta (se é que realmente cheguei a partir)...

    É precisamente porque cada um de nós lê as palavras e as saboreia de forma diferente que não penso em transpor as minhas palavras para papel impresso com capa e preço.
    Não consigo falar com e as palavras, apenas através delas... e não me parece que alguém viaje através delas, só eu, penso eu? É a minha viagem, por mais que outros possam assistir, não podem viajar comigo. É para e por mim que escrevo ... sei que parece egoísta...

    O fantástico está ao alcance de todos. A mente mediana é que não o quer alcançar... Somos tão medíocres em tanta coisa :S

    Haha!!! E porque haveria Ele de endireitar as linhas? Isso é trabalho nosso :D

  16. Anonymous Anónimo 

    Mas seria exactamente por isso que deverias pensar nisso... Porque a diversividade nas palavras é que as tornam algo tão poderoso, tão fugidío... É exactamente essa a beleza de partilhar... Não saber se vamos ser compreendidos, ou se finalmente vamos compreender o que escrevemos... É um misto de adrenalina e medo... (digo eu, novamente apenas numa teoria...)

    Ninguém poderá viajar contigo numa viagem que é só tua. Certo. Perfeitamente certo. Mas por vezes podem acompanhar voos, podem viajar também paralelamente... Será?

    O fantástico não está ao alcance de todos... Ou melhor, não é amado por todos. Isso é coisa do mediano :) Lembro-me agora, por exemplo, do Saramago... não conheço leitor nenhum que lhe fique indiferente... ou se ama ou se odeia (eu sei, eu sei, são palavras "pesadas")

    Não é um trabalho injusto? Mais fácil seria desistir de as tentar endireitar e seguir apenas...

  17. Anonymous Anónimo 

    Não quero ter medo da reacção às minhas palavras ... para quê? Para lhes mudar o sentido que têm para mim? Não, eu qd tenho medo, tenho muito medo ...

    Voos paralelos, claro, tal como os voos nocturnos do Saint-Exupery (onde falta o acento?)... mas serão sempre diferentes, estamos sempre condenados à solidão de nós mesmos, e à liberdade contida ... ai, existencialismo como sobremesa.

    Não, o fantástico está ao alcance de todos ... há coisas às quais não prestamos atenção e são fantásticas ... não me convenceste (adoro o Saramago)

    Injusto trabalho? Nada! O maior de todos, o mais belo e o melhor pago! Às vezes apenas ao segui-las, estamos a endireitá-las ... :D

  18. Anonymous Anónimo 

    É no misto que reside a magia de tal acontecimento... Não terás de ter medo das palavras, ou da reacção às tuas palavras porque simplesmente estás pré-disposta a ter reacções (e aí o misto, não o medo) à sua partilha... :) As palavras nunca mudam o sentido que têm para nós, quer dizer, até mudam... consoante a altura em que as lemos... Mas descobrir que alguém se identificou com elas e (também) as tornou suas deve ser algo fantástico... Eu já me identifiquei com diversas palavras tuas, com os meus sentidos, ou com as minhas viagens se preferires, mas identifiquei-me... portanto podes-me responder se não é fantástico... :) Os voos nocturnos de Saint-Exupéry (o acento no é) paralelos e diferentes... porque o ar não é igual em todas as altitudes... ~
    Também podemos abraçar a solidão, até a de nós próprios, como amiga... Embora seja algo demasiadamente... (...)

    O fantástico não encontra um meio-termo, uma indiferença, caracteristica do banal, e por isso não está ao alcance de todos... Há muito quem decida ignorar, porque não está "à altura" de optar entre a relação amor/ódio que o fantástico obriga... Claro que há muitas coisas às quais não prestamos atenção e que são fantásticas... A seu tempo vamos tomando consciência delas :) (e conheces alguém que lhe fique indiferente??)

    Às vezes Ele esforça-se por as entortar tanto que nem sabemos mais se é um labirinto ou apenas um carreiro (esta palavra ainda se utiliza?) sem fim... Aí é injusto... Porque depois prendemo-nos em "coincidências" e "sortes" que não têm qualquer explicação... (lado racional a tentar emergir)

  19. Anonymous Anónimo 

    :)
    É (muito) bom saber que as minhas palavras te transportaram a algum voo qualquer onde as tuas asas partiram do mesmo cume que as minhas :)

    demasiadamente (...)? n queres completar???

    O fantástico ... mas o que é fantástico? É o que nos toca, e isso difere tanto. A n ser que partamos para o acordo intersubjectivo, como o nosso Nobel literário. Mas ainda assim ... é difícil. Porque eu tb gosto de mtas coisas mundanas e medíocres, tal como de Saramago e García Márquez. Há momentos, há ocasiões diferentes. O fantástico ... quando tomamos consciência é quando nos toca, mas ainda assim há coisas que nunca apreenderemos :S (continuo pouco convencida, e ainda n percebi pq n editas tu um livro, haha)

    A formiga no carreiro, somos nós a formiga :) Larga o lado racional, ele não pode comandar as tuas palavras :P Ele sabe tudo, e só n'Ele tudo se espera e tudo se suporta :D:D:D E é assim que o carreiro ganha sentido, que as pedrinhas no caminho se tornam mais leves ...

  20. Anonymous Anónimo 

    Ah, ainda cá andas... Julgava-te já submersa noutros universos :)

    Abraçar a solidão como uma amiga... É a paz na dor... É demasiadamente... Não sei, há palavras que teimam em não conseguir transcrever os pensamentos...

    Talvez tenha colocado o fantástico num contexto demasiado abrangente, mas o que é fantástico? É algo que não consegue cair na indiferença, por muito que tentemos colocá-lo nessa estado... Não temos necessariamente de gostar, podemos nem gostar mesmo nada, mas não conseguimos "olhar" e ignorar... Há "coisas" que nos tocam assim, e por muito que queiramos negar é impossivel fazê-lo.

    Todos nós gostamos de coisas mundanas e simples (por isso te disse para não confundires o simples com o mediocre...), mas mediocres não acredito, simplesmente porque gostamos delas deixam de ser mediocres para serem no máximo... simples (onde eu não incluo o Saramago ou o García Márquez)

    Para se escrever um livro tem de haver um fio condutor, algo que se transforma mas não se modifica (será que percebes? :P) e nunca tal genialidade me ocorreu :) (e para livro de pensamentos soltos já há o Livro do Desassossego)

    Somos nós a formiga sim, e por demasiadas vezes perdemos o carreiro para seguirmos à margem, criando um labirinto para nós próprios... Ele sabe como tudo se encaminha, mas (in)felizmente não é possivel ficar à espera que tudo se encaminhe... Quantas vezes apetece... Agora que a noite se vem apoderando de mim pouco a pouco é mais fácil largar o lado racional... Durante o dia faz parte de uma máscara que se impõe para afastar o brilho da luz que cega...

  21. Anonymous Anónimo 

    Não, apenas fui mergulhar em chocapic e café pós-chocapic :)

    Abraçar a solidão ... é confuso, sabes? Porque no fundo é sempre negarmos a necessidade do outro (o outro, os outros), e a solidão é enorme, raramente deixa espaço para outros. Não a vejo como amiga. Não dá a escolher. Porque uma coisa é retiro, é casulo, é vontade de estarmos connosco. Outra é a solidão entrar pela porta, escancarar tudo à sua passagem, e erigir uma muralha invisível que custa escalar. Não gosto dela, mas é a minha companheira mais fiel ... hum?

    Medíocre e simples são conceitos diferentes. Eu gosto de coisas simples também, claro (não, nem o Saramago nem o GGM são simples, nem medíocres, cruzes credo). Mas o que quis dizer é q tb gost ode coisas medíocres, fazem parte do quotidiano ... não podemos viver sempre numa plataforma de excelência. E há uma coisa muito mundana e terrena em beber um copo e torcer por um clube de futebol, nada poético, nada mais humano, afinal ... Daí o fantástico ser diferente para cada um de nós. E muda, como as auroras, num instante. Nada permanece, só a memória (irreflectida, acrescentarias tu) dessa experiência.

    Transformar sem se modificar ... não sei se será assim tão preciso ... mas, a ser, lá estão os tais constrangimentos aos quais não quero submeter o que não controlo (nem quero mais tentar controlar). E o livro do desassossego, bem, n queres comparar com mais nada, não? se bem que não é o que mais me toca dele ... ah, a aspirares tais voos, percebo-te. Mas e então? Intimidas-te por comparação? Há quem estremeça ao ouvir sequer falar no Pessoa :S oh, novamente, não me convenceste :) mas isso é bom :P

    A luz que cega ... ou que ilumina o carreiro. A racionalidade, que tantos elogiam e endeusam... se soubessem que a máscara se pode fundir com a pele a ponto de não sabermos quem esconde o quê :S A noite, essa, nunca perceberei,se deixa cair a máscara, se nos tolda a visão (lembras como o que escrevemos à noite ganha outros contornos à luz da realidade (?) do dia)

  22. Anonymous Anónimo 

    Quando decidimos gastar algum do nosso tempo connosco ela não nos abraça, por vezes aparece, como fiél companheira, mas porque lhe abrimos a porta, aí não se instala, deixa-se ficar de pé até que a convidemos a sentar, como uma visita bem-educada. Invade-nos sim quando nos negamos, e negamos o outro, como tão bem disseste. E é nesses instantes em que percebemos a verdadeira falta e talvez seja nesses momentos que percebemos o quê (ou quem) realmente nos faz falta. No quotidiano, luzidio, brilhante é mais fácil fugir do nosso mundo para embarcar no barco do ruído, e deixamo-nos navegar, esquecendo (triste ilusão talvez) e esquecendo-nos...
    Talvez seja um preço a pagar para quem pensa demais, para quem sonha demais, para quem insiste em colocar a fasquia elevada, demasiadamente elevada... Talvez exista um momento em que desistimos de lutar por tais sonhos... Acredito que vale a pena lutar, até ao fim (se existisse) mas por vezes é tão alto o muro a escalar que nem sabemos por onde começar... As forças também fraquejam... A verdade é essa... E sentimo-nos perdidos numa entrelinha qualquer... As linhas parecem demasiado tortas, as páginas ostentam vincos demasiadamente profundos.... E contamos apenas connosco para lutar contra o "mundo".... Valerá a pena?.... (delirios... oh... delirios)

    Ahah, não era uma comparação, mas é o único livro que conheço de pensamentos soltos, daí ter referido... Nem no mais infimo (leva acento algures) sonho me compararia a escrever algo da amplitude do Pessoa.... Aspirar a tais voos era aterrar de cabeça imediatamente :) O Pessoa aprendi a compreender lentamente - não só o Livro do Desassossego que confesso ainda não terminei de ler, visto ser um livro de uma leitura muito peculiar - a compreender e a embrenhar-me nos seus delírios que me fascinam bastante... Mas aí está algo que podemos chamar de fantástico... Há quem estremeça, há quem ame, há quem nunca tenha ouvido falar, mas quem já leu e conheceu não consegue ficar indiferente... Aí está uma definição do fantástico das "palavras" que eu andava à procura. :)
    Pois, também achei estranho estares a "chamar" simples a tais escritores... mas depois de reler percebi que tinha entendido mal... (talvez fossem ainda os raios de luz a invadir o quarto... ou o som da Floribela que por momentos fui obrigado a deixar entrar no meu espaço (gargalhada))
    Não te estava a tentar dizer que temos de viver num patamar de excelência, claro que não. Impossivel! A diferença que estava a tentar colocar (ao tentar definir-te o que para mim considero fantástico e para elites) era entre o simples e o mediocre... Por ser simples e banal não tem de ser mediocre... As coisas mediocres também fazem parte do quotidiano sim mas são indiferentes, passamos sem elas (ou não), ou melhor podemos conhecê-las e passar-lhe indiferentes quando se cruzam no nosso caminho em alturas menos próprias... (estou novamente a alargar o assunto das palavras para o "global")
    (irreflectida e selectiva acrescentaria sim)

    E sabemos distinguir quem esconde o quê? Ou já passámos essa barreira e não nos apercebemos? Há respostas que não se devem procurar, penso eu, pois virão até nós quando entenderem... A noite é algo mágico, sem dúvida... talvez nos liberte um pouco da máscara, ou leve mesmo um pouco de nós e nos faça ver outras sombras, outras luzes...
    É verdade, ganha contornos diferentes... não é tão... (completa tu) ?

  23. Anonymous Anónimo 

    Disse-te e repito, gostava de ter com a solidão essa relação que descreves. Respeito-a, talvez, temo-a, bastante. Às vezes reconheço-lhe mérito e valor, mas a medalha que lhe ofereço é envenenada, seria uma forma de adeus, até quando? Não é completamente imprescindível para nos sentirmos completos, em última análise, será potenciadora e limitadora dessa plenitude (o Manel lembra-me "amar é bom se houver no fundo de um de nós alguma solidão").
    Vincos e rugas, entrelinhas e notas de rodapé, e porque não? Elas são o complexo e o belo do mundo, o ínfimo (eis o acento) dos pormenores a quem temos de contemplar e aspirar. Nós contra o mundo. "Eu venci o mundo", e tb eu o poderei fazer, se o mundo que temo temo porque não me conheço na fortaleza da veracidade do que sinto e sonho. Utópica, lembras? É bom conhecer as fraquezas que temos, é tão bom reduzirmo-nos ao que somos, para voarmos o que somos. Confuso, calculo, sinto, mas não consigo explicar como queria :S

    Pessoa. Até do apelido dele gosto, que raio! Mas o seu lado sombrio afasta-me um pouco. Das imensas apostas que se fazem sobre a mente dele (e perturbações psicológicas associadas) até à Mensagem, tudo nele é um enigma para mim. O livro do desassossego doeu-me quando peguei nele, estava cá em casa (não é meu, mas não sou a única a amar as palavras aqui), e achei que quem escreve poemas que levam às lágrimas (ou a quem as lágrimas me levam) merecia um aprofundamento. E fiquei sem saber o que sentir (ainda não sei, de verdade, se fantástico é o adjectivo que melhor descreve essa sensação).
    Só conheces esse livro de pensamentos soltos? hummm ... (estou rodeada de gente não editável, haha). Farei uma pesquisa na minha humilde estante, a ver se me ocorre algum editado :) OK, escritores arrumados :)

    Flori... quê? (valeu a pena voar, lembra-me o Tiago Bettencourt, aaaah, a noite veio acordar a guerra dos sentidos travada no céu, queres melhor?)

    Uff, a excelência, a simplicidade e o banal cruzam-se tantas vezes. Ontem depois do jogo estava à janela (eu vivo na janela quase hehe) e estava aquele lusco-fusco que entra pelos olhos e cega, sabes? Era só um pedaço do céu, e foi apenas um minuto, pouco mais, voltando a olhar já tinha desaparecido. Quantos terão visto? Quantos terão admirado sem perguntar a beleza de algo que todos os dias acontece? Foi o momento mais feliz do meu dia, não precisou de palavras, nada, nem um gesto, apenas foi... e foi banal, simples ... e medíocre, por nada importante ser, na verdade (a não ser por me ter lembrado que Ele existe, para mim e em mim).

    Respostas que vêm até nós, e serão para partilhar essas respostas? Acredito que o que temos é para partilhar (ok, para não me contradizer, as palavras serão a excepção à regra :P), o que somos tem valor aí, nessa dádiva de nós, mas dar é ... difícil de definir (ora uma boa ideia para um post noutro lugar)...

    Não sei o que tem a noite. Se um pouco de nós que o dia não ilumina, se a escuridão nos traz as palavras menos sensatas e correctas que a luz pole (polir = pole? ai credo). À noite os contornos não precisam de ser definidos, são sentidos, e é aí que entra a confiança não nos olhos que desviamos, mas no que ecoa em nós, quando ouvimos o que o dia amordaça com panos azuis.

    A noctívaga vai dormir, amanhã dá consultas, veste a pele de alguém sábio e sensato, deixa os sonhos no travesseiro, para depois ao fim do dia voltar a ser criança. É bom ser criança nos outros dias ... não tenho de andar de saltos :D

    *

  24. Anonymous Anónimo 

    Nunca sabemos o até quando, o estranho é isso... Por vezes vem disfarçada e entra sorrateiramente instalando-se de mansinho num canto escuro, esperando por uma distracção nossa para saltar... Talvez efeitos secundários (não da poesia) do tal lado envenenado da medalha... Talvez seja imprescindível sim e potenciadora também... Imprescindível para que possamos absorver o nosso verdadeiro "eu" e com isso delimitar planos e coerências. E potenciadora na aprendizagem...

    Eu sei da beleza dos vincos e das rugas, do poder dos sonhos e das vivências utópicas que me permitem voar... Há alturas em que preferia não saber, que preferia colocar os pés no chão, demasiadamente pesados para voar, e manter-me por aí uns tempos... abraçar a realidade vista de baixo... deixar de tentar voar, caminhar apenas, ou até quem sabe deitar-me no chão e aprender a sobreviver... ganhar forças... não sei... Há coisas que me assustam... enfim...

    Ah, o Pessoa... ele é um enigma para todos os que o admiram, é fascinante... Talvez por ter abdicado da vida pelo sonho, não viver para conseguir absorver o mundo... e libertar-se para além disso (confesso que acredito que o alcool deve ter ajudado) é sublime. Todos os dias passo pela "Brasileira" e lá está a sua estátua para me recordar de inúmeras palavras suas, para me lembrar de fantásticos poemas e prosas e pensamentos... O Livro do Desassossego é um livro que não é um livro... é algo mais... Certamente percebes... :)
    Só conheço esse sim, pelo menos acho que sim... (não editáveis ou ainda não editados? :P)

    ...bela... Enfim, não interessa mas desconcertou o tio Jorge que até ficou mais rouco e turvou-me um raciocínio :)

    Para ti não foi um momento banal, nem medíocre. Para quem o observou também não foi certamente. Simples sim, encontramos a beleza na simplicidade... ela é fundamental :)

    E estranhamente todos os dias partilhamos palavras e com elas um pouco de nós, encontramos algumas respostas perdidas nas suas sílabas, recebemos algo também, por vezes mais do que poderemos algum dia dar... Nunca conseguimos perceber nítidamente (nas palavras) se estamos a receber ou a dar... Talvez seja sempre um pouco de ambos...

    Não vamos definir a noite, tentar encontrar uma justificação para o que ela (nos) faz, não seria correcto e não encontrariamos a expressão certa, a palavra exacta, o tom preciso... apenas breves divagações sobre algo que nos ultrapassa... :)

    É verdade amanhã é dia de trabalho... :) Eu ainda fico por cá, efeitos nefastos das insónias... :P Não deixes os sonhos todos no travesseiro... podes sempre precisar de alguns durante o dia... :)

    *

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