Um passo.
Mais outro, chegou. Pela janela a lua cheia invade-lhe o recanto que chama de seu.
Há palavras que lhe ecoam, murmúrios que vai ouvindo sem reconhecer a voz. E abraça a lua.
Nunca se deixou acreditar no que não conseguia explicar, sempre se rendeu à racionalidade dos argumentos inevitáveis e claros, sempre preferiu explicar, compreender, dissertar, discernir. Sempre emoldurara a inteligência, não o canudo que a acompanha, sempre fora a sua defesa última, o seu rápido desfecho ante a inevitabilidade da derrota.
Até ao dia em que o sopro lhe bateu à porta, lhe escancarou as dúvidas e acirrou a fé, essa crença inexplicável que para ela sempre fora o máximo de incompreensão e pasmo que pudera suportar.
Deixou-se envolver, primeiro lentamente, visitando curiosa as labaredas de inspiração. Aos poucos, deu por si absorta nessa perplexidade humilde de quem sente. Ainda que não saiba o que sinta.
falo ao mar de coisas que vi
falo ao mar do que conheci
~ escrito mentalmente no caminho de casa ...
~ antes da derradeira vaga de perplexidade do dia
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