Em resposta a um desafio, lançado -->
aqui.
(...) Sorveu um pouco de esperança numa imagem colorida que o assombrou mas rapidamente também ela o abandonou...
E reconheceu-se nesse escuro que crescia dentro dele, que o aquecia no nada das suas entranhas, que escorria nele e para ele, numa humidade pegajosa que o fazia duvidar da realidade como a conhecera. Tacteando as pedras rugosas das paredes, sentiu o calor do sol lá fora. E quis o frio. Quis o nada. Ou o nada reclamou-o por inteiro, como se ele fosse o nada e o nada nada fosse sem ele.
Não se encontrou no nada, perdeu-se. Outra vez.
No fundo de si, um fósforo. O cheiro a parabéns adocicou-lhe a memória de outros tempos, de quando ainda não tinha morrido ainda vivendo. E aí gritou, soltou o amor que tinha dentro de si calado, submisso a esse nada carcereiro que era a apatia de ser. E o grito prolongava-se, ecoava, multiplicava-se em infinitas gotas de luz que corroíam as paredes grossas de solidão. Rompiam-se, aos poucos, as muralhas do não saber, do não buscar, do não ser. E viu as cores e inspirou o céu azul dentro de si. Os seus olhos já não estavam habituados à claridade, não do sol, mas do sorriso da terra e do ar que o chamavam num apelo mudo, mas tão irresistível, puramente irresistível, mais forte, tão mais forte que o medo e a solidão obscura da apatia.
O grito. Esse grito, que já não era dele, mas de todos quantos estavam cativos naquela densa inexistência opaca, esse grito ganhou força, poder, metamorfoseou-se. A ele se juntaram em sintonia coros de mil vozes, numa harmonia terrífica e incontrolável. Não era ele, já não era o nada que o comandava, era ele, como há muito não se sabia. E gritou, por si, pelos outros, por todos, mesmo aqueles cujo grito não demolia o frio e as amarras sangrentas do esquecimento.
Então ... o silêncio. Estava exausto. Roto, gasto, pálido e esmaecido. Extenuado pela imensidão que não compreendeu, mas que o beijou na face e o fez saber que acabara de renascer.
~~ ao som de Black, dos Pearl Jam ~~
Há uma leveza incontrolável e profunda caracteristica das tuas palavras... Escreves de uma forma fantástica... Simplesmente perfeito!
Obrigada, mas n é tão verdade assim... Não me sinto nada leve nem clara nem transparente, mas profunda sim, e eventualmente será esse o meu refúgio.
Confesso que o teu início se adequava tanto a mim nestes dias que foi quase uma libertação poder escrever um "final feliz" para algo tão denso como o que escreveste. Foram as tuas palavras que conduziram as minhas, quase como se as minhas mãos pelas tuas fossem guiadas invisivelmente.
Agradeço-te, por tudo isso...