Palavra feia.
Sentimento feio.
Real.
Cruzou os braços.
Desfez as malas, de tão prontas que estavam dava dó a tarefa penosa.
Rasgou o bilhete do comboio. Queimou os pedaços que teimosamente insistiam em deixar adivinhar o destino da viagem.
Olhou-se ao espelho. Olhou o telemóvel, à espera da mensagem que não chegou. E, em silêncio, começou a arrumar tudo no sítio de sempre.
Entre gotas e lágrimas, tudo no mesmo lugar. Entre sorrisos condescendentes, repetia que seria melhor assim.
Como olhar agora? Como ver? Como escutar agora? Como ler, como escrever e saborear os doces e amargos do dia?
Seis da tarde. O telemóvel continuava mudo. Sem pressa, arrancou uma folha do caderno que tinha na mesa de cabeceira. Linhas azuis. Um esgar. Sempre tinha preferido folhas quadriculadas. Tinha sido bom aluno a matemática, tinham sempre gozado com ele precisamente por isso, pelo seu ar inteligente e doce, pelas palavras que nunca souberam interpretar.
Escreveu, muito, escreveu, tudo.
Nove da noite. Começou a escurecer. Ainda sem dar sinal de vida, nem mensagem, nem telefonema, nada. E nesse nada, o feio sentimento fez-se gigante.
Para onde? Como?
E agora?
Pegou na folha. Leu-a. Releu-a. Uma vez, muitas vezes. Dobrou-a.
Saiu pela porta.
Nunca mais voltou.
... fala-se demasiado alto para quem está tão longe ...
Este é um post vazio. Ou antes, é pouco intencional.
Não era isto que queria escrever.
Tenho tido flashes lindíssimos enquanto ouço letras ainda mais belas de grandes canções. Mas chegar aqui e passar essas palavras para o teclado não é nada, nada fácil.