Cansaço


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Lembrar-me? (?)



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Está cansada.
De falar e as palavras fazerem ricochete numa barreira invisível. Como se as palavras que diz se ordenassem numa língua estrangeira que não se torna compreensível.
Como se enviasse as palavras numa garrafa pelo rio abaixo e a corrente as engolisse.
Está cansada de se atirar contra a vidraça. De ver as coisas translúcidas e baças, apesar de saber exactamente o que está do outro lado. De sentir o vidro frio e duro inquebrável a deixar-lhe a pele cheia de nódoas negras que não saram.
Está exausta. Considera, pela primeira vez, desistir. Deitar fora, sair, desistir de respirar, colar-se à vidraça e deslizar até ao chão. Deitar-se e abandonar-se à sorte que nunca teve.
Está sobretudo cansada de amar ...

E pudesse eu pagar de outra forma


4 opiniões sobre o crime “Cansaço”

  1. Anonymous Anónimo 

    É no silêncio de uma lágrima que nunca cai que tudo nos parece mais dificil, fugidio... A vontade de desistir e deixar tudo como se nada fosse... Perder uma parte de nós para que a outra se recomponha um dia... e esquecemos que ao desistir estamos também a abdicar de nós, da nossa essência. Já diz Palma "para quê fazer planos quando sai tudo ao contrário", e está bem certo... porém é nestes pequenos silêncios que sentimos também que ainda há algo a ser feito, ainda há uma réstia de esperança que nos acompanha, um último fôlego, um pouco de nós que ainda sobrevive... Extrai então o melhor desse pouco que ainda resta e luta para que se torne um todo... A vida é breve mas merece ser vivida acreditando na Felicidade e na raiz dos sonhos...

  2. Anonymous Anónimo 

    É o peso de tudo isto ao mesmo tempo que me impede de me enrolar sobre mim e fechar os olhos. É o saber que há quem viva porque eu vivo. Ainda que eu não ache que viva de verdade.
    Ainda assim, é um túnel tão longo que me pergunto porque confundo a saída com respiradouros ocasionais.

  3. Anonymous Anónimo 

    Consegue alguém saber o que é "viver de verdade"?? Vamos vivendo entre pedaços de tempo que não se medem pelos segundos mas pela intensidade... Encontramos nos demais os nossos pequenos refúgios e conseguimos com eles sobreviver dia após dia, tentando enganar o nosso próprio "eu" ao sussurrar-mos ao vento que não precisamos de mais nada. Eterna mentira. Reencontramo-nos sem mais ninguém é a tarefa mais àrdua que conheço mas também a única que nos liberta.

    A saída? Não será a saida apenas mais um respiradouro? Diferenciando-se apenas pela intensidade da luz? Os respiradouros são como os cruzamentos na estrada da vida... indispensáveis e obrigatórios, temos então que tentar tirar proveito deles...

  4. Anonymous Anónimo 

    Não me encontro e não me reconheço, talvez apenas nas palavras que escrevo nos intervalos da escuridão cerrada, mas não me reconheço no espelho nem na vidraça que quero partir.
    O meu eu sou eu, mas a solidão não me descobre.

    A saída como um respiradouro mais intenso? Mais fresco?
    Bem pensado. Lúgubre, mas bem pensado. Não há luz ao fundo do túnel, tenho de escolher o meu respiradouro.

    Obrigada pelas palavras e pelos sentimentos...

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