Poeira

0 comentários

Era pequena, pequenina, mirrada e enrugada. E sorriu. Disse qualquer coisa sobre uma terra diferente, onde os hábitos faziam os monges e as aparências não iludiam. Em que os homens eram homens e não bombas de testosterona armados de insultos e as mulheres eram mulheres e não manequins falsos esborratados de maquilhagem e roupa.
Era uma terra quente de Verão e fria no Inverno, amena nas estações amenas. Era uma terra fértil, literal e metaforicamente. Era a sua terra.

Saiam-lhe as palavras como uma lengalenga ou uma prece de quem já viu o que todos quisemos ver. E as crianças escutavam, sentadas como se ela fosse uma fogueira cujo fogo hipnotizasse.

E um dia, logo depois de contar uma outra cena da terra cor de céu azul e terra castanha, após as perguntas do costume, dos beijos e abraços do costume, sorriu. Sorriu e os seus olhos vítreos não desmentiram. Afastou-se, agastada.
Só no dia seguinte, ao encontrarem a fogueira reduzida as cinzas, as crianças perceberam que a terra castanha e azul, quente e fria e amena, realmente existia.



Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és,
ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas,
ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração,
se é que queres ir para lá morar


Obsessão

0 comentários

Sempre soube o que era. Obsessivo. Triste. Falso. Desiludido.

Dizem que nasceu a pensar nesse dia em que se fundiria com o pedaço de papel que tatuou na testa, escrito a cinza de cigarro partilhado e a notas musicais arranhadas.
Parece que arrastou na sua demência outros e outras, que nele quiseram acreditar. Parece, porque a maldade nega-se sempre, e a obsessão disfarça-se bem de persistência.

Caia, portanto, no esquecimento doloso, na verruga de um ano cheio de costas frias, na vergonha de ter sido apenas uma vírgula quando quis ser ponto final.

Arraste, assim, o nome e a ignomínia, seja tentado mas não tentador, seja esquecido, mas não esquecedor.

Dizem portanto, que as mão se soltam porque nunca estiveram juntas.




Vi o brilho de punhais
Iluminar sorrisos abertos
Feitos para maquilhar
Os rostos sem expressão


Corda

1 comentários

Que se aperta, junto ao pescoço, e asfixia, e impede qualquer trago ou sopro de vida.
Morte lenta, cheira a mortalhas viscosas ... Cheira a dedos bafientos, a gárgulas sedentas, a nuvens prestes a eclodir em pó.
És pó, ao pó voltarás, dizem. E a carne, que prende os desejos e os sentimentos? E os beijos e os abraços?
Hoje talvez pudesse ser um pouco mais de pó. Talvez o pó afaste outro pó, como as cargas eléctricas. Seria electrão e a morte protão. Tudo menos neutrão, passivo, à espera.
Asfixia, suga o brilho dos olhos, turva a pele escamada, morre lentamente.

Assim seja.
Sentimos no ar a melodia etérea.
É a nossa música.
Cantamos e dançamos como se fosse a última vez,
o último olhar, o último toque, o último beijo.
Estás linda.
O teu vestido, da cor do vinho
que enche os copos,
aquece o chão que pisas
e relembra-me a razão.
Todas as razões.
Diz-lhe para parar aqui.
Eu queria tanto parar aqui.


Sobre mim

  • alter-ego Green Tea
  • de eu vim de outra esfera
  • pessoa pensante cheia de ideias e dúvidas
  • perfil

Últimos crimes

Ficheiros arquivados

Criminosos em flagrante

Criminosos em grande estilo

Provas do meu crime

Crimes autenticados

Estou no Blog.com.pt

Crimes com som

A ouvir

As + ouvidas da semana

O meu last.fm

Inspirações

Têm seguido o rasto ...

Responsabilidade

The animal rescue site
The child health site
The hunger site
The rainforest site
As bijuterias da Maria
Support Amnesty International

A história dos dias


ATOM 0.3