Era pequena, pequenina, mirrada e enrugada. E sorriu. Disse qualquer coisa sobre uma terra diferente, onde os hábitos faziam os monges e as aparências não iludiam. Em que os homens eram homens e não bombas de testosterona armados de insultos e as mulheres eram mulheres e não manequins falsos esborratados de maquilhagem e roupa.
Era uma terra quente de Verão e fria no Inverno, amena nas estações amenas. Era uma terra fértil, literal e metaforicamente. Era a sua terra.
Saiam-lhe as palavras como uma lengalenga ou uma prece de quem já viu o que todos quisemos ver. E as crianças escutavam, sentadas como se ela fosse uma fogueira cujo fogo hipnotizasse.
E um dia, logo depois de contar uma outra cena da terra cor de céu azul e terra castanha, após as perguntas do costume, dos beijos e abraços do costume, sorriu. Sorriu e os seus olhos vítreos não desmentiram. Afastou-se, agastada.
Só no dia seguinte, ao encontrarem a fogueira reduzida as cinzas, as crianças perceberam que a terra castanha e azul, quente e fria e amena, realmente existia.
Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és,
ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas,
ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração,
se é que queres ir para lá morar
0 opiniões sobre o crime “Poeira”
Enviar um comentário