É um vazio que lhe preenche todos os recantos da alma.
Esmaga-a e oprime-a.
A dor paralisa-a, enche-lhe o peito de fumo denso e o nevoeiro de si asfixia-a.
E não se apercebe de como consegue permanecer viva. Levanta-se, aquece um copo de leite com chocolate, porque o leite simples a enjoa. Pensa em si como um enorme copo de leite simples.
Veste-se, qualquer coisa que não chame a atenção, sai de casa e maquinalmente repete os capítulos da sua existência.
Trabalho. Casa. Trabalho. Trabalha. Sem lá estar. Presa a um corpo que não reconhece, a uma vontade que não é a sua. Desprovida de alma.
Lá no fundo. Bem no fundo do seu dia e da sua noite. Uma luz de ser, um grito mudo a querer voar. Um gesto que pesa num ser que não se reconhece. E um jeito de olhar que tenta ver o que não está lá. O essencial é invisível aos olhos.
Mas a dormência persiste. A paralisia atordoa-lhe a vontade. E está só.
Um fio quente de vontade esfria num corpo de pedra cinzenta. À espera, lamentavelmente à espera de si.
... sempre a mesma vida encalhada nesse sempre ...
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