Ela joga. Ele joga também.
Nas mãos as cartas ditam a sorte, no peito a mudez aperta o destino.
Olham-se, antevêem as jogadas possíveis, os valores que têm na mão, as feridas abertas que persistem no coração, e olham-se, sem trocar palavra.
Jogam durante a noite, apostam na escuridão em que se reconhecem pelo som abafado das cartas a roçar a pele. A luz estraga-lhes o jogo, aviva-lhes as feridas, e por isso jogam de noite.
Nunca acabam o jogo. Ela sorri, a pensar que as cartas lhe sorriem também. Ele sorri, a ele as cartas também lhe sorriem.
Os naipes são coloridos, o fascínio, a loucura, a alegria, o amor, pinturas esquecidas, brilhantes e novinhas, porque tudo se renova no coração dos homens. Mas no escuro mal se apercebem das cores, só adivinham os rostos um do outro, só adivinham o que poderia ser se tivessem a coragem de acender a luz.
E jogam. Um jogo que só acaba quando um deles abrir os olhos. Só acaba quando um deles acender a luz, quando um deles deixar de achar o escuro o refúgio mais seguro.
Não será hoje. Hoje a caverna de Platão ainda lhes parece a pintura mais segura, a realidade pode doer, o jogo pode ser a sério lá fora, onde os sentimentos são a sério. E doem.
Mas curam. E fazem viver.
... não deixes de escolher entre tudo e o nada ...
Oops ... mais um post no blog errado. Abre-se a luz e eu não distingo o eu deste blog do eu dos pedacinhos de estrelas. Sou a mesma. E sou eu.
Continua a fazer-me sentido este jogo...