Sinais que se cruzam.
Para quem não fala, ele disse muito. E ela não ligou.
Era só uma letra, só umas palavras juntas que deveriam dizer qualquer coisa. Porque ele não era capaz. Porque as palavras cantadas soavam melhor que a sua voz trémula. E ela não ligou. E ele deixou morrer.
Passaram-se tempos, dias, semanas, meses. Os dias somaram-se, intermináveis. Agonizante o desespero dela, rouco o sussurro dele. Sinais cruzadas que trilharam atalhos diferentes para um mesmo destino e se desencontraram.
Foi quando ela se lembrou de ouvir. E se apercebeu do tarde que era. De como a beleza da chuva pesava. E ouviu, escutou, bebeu, respirou, vezes sem conta, o segredo escondido na poesia das palavras que ele não teve coragem de dizer. Duas lágrimas persistentes morreram na sua saudade e sufocadas no seu peito apertado pelo medo. Era tarde. Ele tinha deixado morrer, sem nunca se ter apercebido. Não tinha sido por desprezo, não tinha sido por despeito. Tinha sido por medo. De não compreender, de não ser compreendida. Sinais cruzadas que trilharam atalhos diferentes para um mesmo destino e se desencontraram. E se amaram à distância.
Mais tempo passou. Os jardins do tempo floriram, mas nada voltou a ser como dantes. A oportunidade perdida de atar os lábios às palavras desperdiçadas deixou um cheiro a canela no jardim onde ela passeia.
Quanto a ele, nunca soube como ela regava as flores do jardim que plantou a pensar nele. Nunca soube também que ela iria logo, logo, para um sítio qualquer, um sítio ao sul, com sol e céu azul, e fugiria nesse embalo doce que o tempo não juntou.
eu vi ... mas não agarrei
0 opiniões sobre o crime “Arrependimento”
Enviar um comentário