Num prédio. Só no meio de tanta gente a fervilhar de afazeres.
Numa praia deserta.
Ele vai escondendo a saudade.
Vai sorrindo enquanto se tenta convencer da sinceridade desse sorriso. Foi há muito tempo já, ainda ontem, que pensou em desfazer essa saudade que os vai angustiando. Mas olhou para as suas mãos cheias de terra e areia e pedra e teve medo.
Ela não esconde a saudade. Esconde-se a si. Espreita pela fechadura e vê os passos na sombra que dança. E suspira, olhando para as suas mãos pequenas.
Ele murmura o que não diz, ela sussurra o que não ouve.
Sentada no chão da varanda, a olhar o verde da grande árvore em frente, ela suja as mãos no chão e na terra de vasos que há muito não servem para nada. E vê a rua cinzenta onde tudo se torna azul se ele passa. Sentada numa esquina, encostada ao vidro, a ver o que não vê.
A ver o rio. Ele vê o rio e sorri. A saudade existe quando não se quer. E é isso mesmo que ele quer, enquanto o cinzento se torna claro e os sorrisos são fáceis.
Vou dar o mundo a quem?
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