Rasgou-se-lhe a pele.
Os restos de mar e fumo secaram-lhe a carne que não sentia.
Rebentou os aros e as correntes que o prendiam à massa disforme de gente que se olhavam sem se ver.
Ao princípio não viu, não cheirou, não ouviu, nada lhe tocou.
As formas ampliaram-se lentamente, ganharam cor, fervilharam de novidade e amor e sol e risos distantes.
Caíram as redes que lhe atavam os gestos e lhe prendiam os sentimentos. Inspirou, fundo, bem fundo. E uma golfada de pureza ácida e lúcida entrou nele como se de um beijo doce saísse a mais bela e suave das melodias que o ouvido humano nunca escutou.
Nu. Viu que estava nu, e sorriu, pensou nas histórias de crianças no paraíso. Tornara-se invisível aos olhos dos outros.
Olhou em volta. Cinzas humanas pálidas e desprovidas, meias vidas que se arrastavam. Cinzentas e pardas recordações por nascer de luz.
Abriu os braços, sentiu a brisa roçar-lhe a alma, arrepiou-se com a beleza de existir, com o calor do sol a beliscar-lhe o corpo em criancices plenas de tudo, com a fragilidade divina das cores e das sombras.
E quis partilhar! Partilhar-se ...
... aparecem e acontecem, esquecem que no fundo ninguém sabe o que faz ...
[primeiro DESAFIO dos que estão para vir]
[desafio cumprido --> aqui]
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