Tinham-se passado dias, que pareciam anos e séculos poeirentos. Horas que o crucificavam no silêncio que se escondia no ruído desinteressado e desinteressante da monotonia. O brilho, o brilho dos olhos dela, esse, tinha ficado escondido e ele não sabia onde.
Reviu, mentalmente, todas as linhas escritas e não ditas, todos os sorrisos ensaiados ao espelho para ficarem presos no fundo do seu medo, jazendo amargos e desfeitos. Tinha decorado dezenas de discursos diferentes, palavras que não compreendia, mas que sabia que ela poderia gostar, e tinha lido grandes poemas à luz de velas para não estranharem as suas vigílias nocturnas, as suas insónias inexplicadas.
Anos, dias, meses, o tempo nada é, e mil anos são nada para quem se ama.
Tinham-se passado dias, que pareciam anos e séculos poeirentos. Minutos que a afogavam em panos de angústia e rumores de suores ausentes. Na incerteza do querer de quem quis, deixou-se ficar. Tinha construído uma barreira de tijolos encarnados, e foi pintá-los de azul. Depois pintou-os de branco, porque a última palavra dele tinha sido essa, azul.
Ensaiou olhares prontamente desviados caso se cruzassem, acenos confiantes e mentirosos, e resolveu esquecê-los, porque o brilho do seu olhar a traíria, e lhe contaria o que o seu corpo e as suas palavras negariam.
E a espera findou quando o adivinhou sem o ver, mas não o olhou.
Não a chamou, não soube que sentir perante o seu passo apressado de quem não tem tempo.
Procuraram e encontraram-se, reconheceram-se e respiraram-se. Mas não se olharam, não se tocaram. Renderam-se à certeza de se desencontrarem em lados opostos de uma linha invisível, que os queimava quando se aproximavam.
E afastaram-se, incertos de que o tempo os apaziguasse.
Falo de um amar para dentro, que é virar a dor para dentro
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