Nas gotas que não caem do céu encontrou um sorriso.
E pareceu-lhe momentaneamente que o tempo parava. Indiscutivelmente a perder a pouca sanidade mental que alguma vez tivera, riu-se de si para si, só para si.
Movimento, só a existência de movimento lhe devia ter bastado para perceber que o tempo não pára, não se coíbe de ser inexoravelmente fluído num percurso que ainda está por conhecer. E havia movimento, carros a esfumaçarem a cidade já cinzenta, sons de passos nas calçadas, enfim, tudo fervilhava.
Placidamente, a mesma sensação de dormência, de paragem inexplicável e intransmissível a toldar-lhe o peito. O tempo parou. Não está mais lento, a ampulheta não desliza mais lentamente, simplesmente parou. E no meio do tempo parado, o movimento, como que uma fotografia animada. Soube-o com uma certeza lancinante.
À sua volta ninguém se tinha apercebido do milagre do tempo parado, como viria a ser denominado. Não havia morte, não havia vida, toda a humanidade estava agora suspensa num momento que não acabaria nunca nunca nunca. Os relógios explodiram, os conta-quilómetros dos carros desorientaram-se. A maquinaria da ciência reduzida à inflexibilidade das impossibilidades. Não há tempo, não há distância.
Foi só quando se aperceberam que nos rostos não nasciam rugas que a estática mutação dentro deles os apavorou.
Ela deixou-se ficar ... tinha agora todo o tempo, o que quis e o que não conheceu. Ficaria eternamente à espera ...
Todas as esperas, todos os anseios, não fazem sentido agora que o tempo se decalcou na pele de quem o vive. Esperar para quê?
... quando não estas a olhar para mim eu desapareço ...
O tempo pára? Tantas vezes ansiamos que assim seja... A verdade é que se o tempo parasse tudo deixava de ter sentido... Por vezes bastava-nos que ele abrandasse o seu ritmo infernal e que nos deixasse pensar... Mas infelizmente o tempo não espera por ninguém, os relógios rodam sempre indiferentes... Li há uns tempos que o tempo livre é demasiadamente perigoso para quem não tem onde o gastar... Será verdade?
Nada faz sentido ... com ou sem tempo para gastar e esbanjar, com medos a travar as palavras e os gestos que podiam ter sido diferentes. Mas não foram, e hoje não percebo porquê, só me recordo do refrão, o que foi não volta a ser, mesmo que muito se queira ... e querer nem sempre é poder.
Mas tens toda a razão, tempo livre sem rumo é perigoso, tão perigoso como a sua ausência.
O tempo parou ... no post ... mas perversamente aqui, no mundo real, foge de mim.
Desculpa a resposta meio cinzenta, é como o céu está hoje, acabei de regressar de uma caminhada por entre as ruas daqui a ver se punha as ideias em ordem ... sem sucesso.
Tive um problema para responder ao comentário, enfim, hoje nem as tecnologias ...
O tempo pára nesta fotografia ... e é mau, é um presente envenenado, tens toda a razão. No tempo real, nesta vida para além das letras que parecem coerentes, ele foge, escapa-se, não vale nada, não dá nada. A ninguém.
Tempo livre, para gastar, para apreciar, para ... para quê mesmo? É a mesma questão, esperar para quê? Só me lembro "o que foi não volta a ser, mesmo que muito se queira, e querer nem sempre é poder" ... e tudo o que fica para trás projectado num futuro que não chegou a acontecer por causa dos gestos e das palavras que ficam escondidas.
Desculpa, estou a divagar ... hoje não consigo mais que isto. Recordo agora a imagem sem legenda e lembro de um título quase perfeito ao meu estado de humor ... podre, o mundo renasce podre quando a luz é quente demais.
E lembro-me do Palma ...