Lenta, e pesada. Recostou-se como um animal ao sol, havia muito a triturar na sua imaginação pouco fértil e muito semicerrada de si.
Deixou-se conduzir enquanto saboreava cada réstia de memória dos dias recentes. Para quem é mãe dos tempos, os dias são frutos coloridos.
Lembrou Pedro e Inês, deitados e sepultados juntos. Abençoados pelo Sol, velados pela pedra e pela monumentalidade secular. Era para um amor assim que tinha nascido. Para um amor intemporal, daqueles que fazem acreditar em contos de fadas e príncipes e princesas e na felicidade eterna.
Quis ser o ardor no cume da imortalidade. Lembrou-se, agonizante, do nome destinado cravado no pescoço da alma. Apagá-lo era degolar-se, era esvair-se. Daí ser cinza. Porque se tentou curvar às exigências dos homens. O seu choro transforma-se em cinza fina assim que é arrancado do seu rosto, e o seu sorriso petrifica-se na distância demasiado longa para ser percorrida. Ela, eterna e imortal, tem tempo. O mundo não.
Cai a noite. Cai de si, em restos de mulher. Sabe-se e sabe-os. Pouco importa, nada importa agora. Não há nada que a impeça de se arrastar no ar e ser lava, vulcão ardente, cativante e mortífero. É o mundo, que a cria e a ela se ata e cola. O mundo, feito de putas púdicas sem saber o que é a queda, o que é saber de cor os caminhos do matadouro. Estende-se ao sol, pousa os olhos, larga os pensamentos. Chegou, voltou. Ei-la.
É um animal, e pouco mais. Optou pela trela invisível que a ata sem a torturar. É prisioneira, mas também prende quem a aprisiona.
Quis ser Inês. Mas era Romã.
por favor diz-me quem
és tu de novo
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