Atravessou o branco que feria os olhos. Apenas para entrar num outro branco, mais cego e quase asséptico. Túneis de luz, nada mais. Nunca sentira luz a mais, nunca soubera como pode doer o simples acto de andar, nunca o medo se infiltrara tão fundo na sua nudez desprotegida, apenas coberta de tecidos.
Sabia, porque há muito o adivinhara, ser aquele o seu caminho. Sabia e, acima de tudo, sentia. Andava, os passos prosseguiam, mas era como se o corpo apenas deslizasse, como se a sua vontade quase não estivesse nas suas mãos. Mas estava, e era apenas pelo querer com medo de querer, apenas pelo voo onde a queda se espera, apenas e tão só pela magia de sentir e saber, que o branco não se dissolvia, e se colava, insinuando-se em cada centímetro como a primeira das peles.
Apenas o branco imenso. Indefectível e imperecível. Quase sufocante ao mesmo tempo que libertador e salvador. E o ruído surdo dos passos sobre o chão branco. A ausência de eco. A rouquidão da voz há demasiado tempo encerrada na caverna do corpo.
E o tudo que lhe coube dentro de si.
Veio com pés de veludo macio resgatar a luz, veio trazer-lhe a companhia da cor e do som. Trouxe consigo o riso e a textura da claridade viva. E o branco fez sentido …
Já tenho tão pouca gente
para me encontrar
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