Assim é ...
Podiam não ser dele os olhos que não olhavam, e até podiam não ser dela as palavras que ficaram suspensas entre meias medidas por classificar. Nunca o tinham feito. E agora sabiam, nunca o fariam de todo.
Não o seriam nunca. Foi isso que soube quando abriu os olhos dormentes do descanso que não teve. Soube-o, e já o teria sentido se não fosse uma qualquer ilha de esperança onde tinha ancorado as suas palavras.
Saiu. Cortou o cordão da rotina onde se tinha fixado para perdurar o instante. Deixou que o vento lhe trouxesse os bons dias e acenou com os olhos ao mundo que tinha ficado para trás. Na realidade.
Encostou-se na madeira do banco velho de jardim, aspirou o verde imenso a dançar nas folhas que amplificavam a saudade, o castanho quente do outono que regressava uma e outra vez, e a canela doce com que viu polvilhada a sua vida. E fechou o caderno. De linhas. De rascunhos quase esboçados. Não o voltará a abrir.
Fechou-se doce e suavemente. Não se voltará a abrir.
Quem te quer mudar
Não te quer conhecer
Como era bom podermos largar-nos da realidade...
Se fechar o caderno significasse não voltar a abri-lo... Talvez a saudade amplificada pelas folhas e pelo castanho quente do outono seja sempre mais forte e nos condene a abrir uma e outra vez o mesmo caderno, ainda que na expectativa desesperada deste já não conter qualquer palavra escrita, qualquer linha desenhada, qualquer sentido possível. Talvez este vazio fosse, finalmente, o ponto de partida para um novo caderno... Talvez, se assim fosse...
Abri o mail e dei com os vossos comentários...
E descobri (?) que às vezes escrevo a realidade que poderia ter sido ou quase que foi, largá-la dói, mas é preciso, sobretudo quando de realidade teve apenas a ponta do véu a ser descoberto.
Lígia, esse talvez que nunca saberemos. Mas lá está, a saudade está cá por alguma coisa. Para nos lembrar ("que há um fim", e para bom entendedor meia palavra, ou apenas estas 4, chegam).