Braço. De ferro. Feito de pele e suor. O sal não se pesa, não se distrai.
Não chove. E por isso é seco o adeus e engolido numa noite insone. Porque não chove, e o barco não estremece, não ruge nem gane com medo de se voltar e ser devorado vivo pela mão trémula cujo adeus se desprende apenas para ser novamente contido.
É uma barcaça, meia de madeira meia de tecido vivo, metades feitas de palavras e qualquer coisa mais que nunca parece ser suficiente.
E o enjoo, o enjoo de não chover, o enjoo de ser um leme tosco e distante, de ser apenas um braço a dobrar. Da calma que apenas esconde a tormenta. O enjoo de não haver enjoo, o medo do enjoo. A viagem, para onde?
Não chove. Braço, de ferro. Ganhar, perder, fechar, olhar, temer. Pedir a chuva, dançar para ela. A sós. À espera do braço abrigo porto seguro luz dormente segurança.
Vem, chuva, vem
Molhar os meus sentidos
ressentidos da poluição
Vem, chuva, vem
Leva-me do peito
a saudade e a solidão
Vem, chuva, vem
Lavar os meus cabelos
e os dedos amarelos do fumo
Vem, chuva, vem
Encher a maré,
dar movimento a este barco sem rumo
e há cá dentro uma falta imensa
de não saber o que dói
e quando dói
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