Embrulhara cuidadosamente o tempo que acordara numa brisa lenta. Tinha tecido uma manta de retalhos de ideias, pensamentos e entrelinhas.
Encostou o ouvido ao tempo, e ouviu-o passar e escorrer em soluços cadentes.
Anteontem, ontem, anteontem, ontem, hoje. Sempre a mesma batida, nesse sempre desfeito em pedaços de luz que só ganha vida quando estilhaçada. Esboçou um esquisso de sorriso.
Saiu para o coração da cidade, afundou-se numa cinza velha e pálida, mas sentiu-se vivo e renascido, possuía o tempo. O poder do tempo era realmente o supremo de todos. Encontrou as crianças que hoje são velhos enrugados e torcidos pelo tempo que se escondia no tecido. Antecipou as rugas nos rostos de recém-nascidos de daqui a anos. Em ápices quase escandalosos juntou e separou amores e ódios, rugas e lágrimas, abraços e lutas.
Estátuas à velocidade da luz, pensava enquanto as reduzia a pó. Reconheceu os seus pais, e antes que pudesse perceber ou antever, encontrou a sua lápide a sul da morte. Datava o dia de hoje, morrera sem o saber, e a cidade permaneceu, cinza, morta. Perene.
Pensas no passado mal passado
E em tudo o que em ti corrompeu
Mas enquanto tu vias o filme errado
Fui eu quem morreu
Já sei que sabes
Que a vida corre
E que amanhã não há amanhã
Mas enquanto tu pensas em tudo o que morre
Eu ranjo no meu divã
eh pa ana, grande texto. tambem gostei muito da citaçao.
obrigado por me citares ana. foste estragar o blog mas enfim...
eh pa oh cão da morte sabias que és genial? as tuas letras fazem-me pele de galinha. a tua letra só veio enriquecer o bonito texto da ana,
gravito és extremamente fófinho!