Escuto, desassossegada, o lamento constante e insidioso da chuva lá fora. A inquietudo escava-me maldosamente o peito e rouba-me a paz que apenas retenho fugidia entre os dedos. Respiro luz, preciso de luz, falta-me o ar no escuro dos dias, os meus sonhos fazem-se de luz e claridade, tento desesperadamente encontrá-las dentro de mim. Sem sucesso.
Arranco-me as asas, essas tristes inúteis que insistem que hei de voar. Valer-lhes-á de muito, essa esperança. Arranco-as, furiosa com a acidez que de mim brota. Isto não sou eu eu, juro a pés juntos. E quanto mais me ergo e agiganto, mais me assusto. Repito, esta não sou eu. Eu não sou eu.
Mordo-me e sufoco-me. Preciso de ar. Quero ar. O meu querer é guerreiro e fugaz, frágil perante o monstro que se me revela dentro de mim. Porque esta também sou eu.
E tenho medo.
Se há luz lá fora eu quero
Que haja luz em mim
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