Deixou o calor do lado de fora do corpo enquanto se tentava encontrar do lado de cá do espelho. Quando o calor se viu afastado tão rudemente do corpo que o alimentava, desfez-se amargamente e o céu chorou. Descalçou o tempo dos pés e pôs o cansaço de lado. A mão em forma de concha colou-se ao ouvido, todos sabem a melhor forma de verdadeiramente se escutar. E então os murmúrios sucederam-se... nem monótonos nem entusiasmados, nem suplicantes nem exigentes, nem nefastos nem egoístas. Apenas descaracterizados, indiferentes e iguais a tantos outros que escutara ontem. Anteontem. Antes disso. Todos os dias antes deste, desde que resolvera tentar ouvir. Indiferentes e iguais, como todos os que ouvirá amanhã e depois. Eventualmente um murmúrio mais forte surgirá. Será dito como se escrito fosse, terá cor de canção e cheiro a olhos que ainda não viram o mundo.
Quando esse murmúrio ausente se tornar voz concreta, fechará os olhos e tentará compreender. E desejará não ter ouvido todos os pedidos e todos os desejos da espécie humana, porque saberá que não foi das suas mãos que o Homem nasceu, mas que as suas próprias mãos estão atadas pelo Homem que brinca aos deuses e aos Homens.Nesse dia, Deus secará. Mas escutará. E valerá a pena.
Ao ver meu quarto aberto alguém entrou
Só no acender da luz vê que eu não estou
Fico sem palavras para te deixar...
Sinceramente!
É muito bom o que por aqui leio.
Desculpa se parece graxa.
Mas é exepcionalmente bom.
Sinceramente!