Ele disse "vamos ficar aqui", repetiu e treinou demoradamente frente ao reflexo nocturno. Preparou quase milimetricamente o momento da partida, poisou o bilhete que tinha desenhado enquanto contava as horas.
Mirou a foto na cabeceira. Não encontrou o seu rosto, ainda que o tenha reconhecido através do pálido luar fosco. E apercebeu-se que era a segunda noite sem dormir.
Ele disse, repetiu, e esmoreceu. O relógio palpitava horas e arrotava segundos trémulos. O bilhete amareleceu. E a luz encostou-o à parede.
Houve uma manhã sucessiva em que quis acreditar que o céu é feito para ser um limite tangível. Houve uma tarde em que soube que a terra o comeria vorazmente. Mas não houve uma noite que tivesse fim ou que morresse às bocas do desespero. De noite, o único medo era a luz, porque as palavras, essam, eram dóceis.
Os gestos, esses, ficaram guardados e escondidos no fundo do dia, em que as peças de carvão que são as pessoas, acordam para um nada onde julgam existir.
Amigos são sobras do tempo
Que enrolam seu tempo à espera de ver
O que não existe acontecer
0 opiniões sobre o crime “Teimosia”
Enviar um comentário