Voltou a acender o cigarro com um fósforo, apenas para se deliciar com o cheiro. Gostava do cheiro do fósforo, de o ver arder, deslumbrado pelo fogo contido e controlado.
Quase não deu pela morte do cigarro no cinzeiro, enquanto descascava a carteira de fósforos. O cheiro, diriam, é tudo na mente de uma pessoa, embala as recordações e agudiza as sensações.
O cheiro a lume dado e vendido nas esquinas... Olhou pela noite da janela e decidiu sair.
Cá fora, à chuva, o boneco de neve humana desprendia fumo solto em fósforos. A multidão ora aplaudia o comedor de fogo, ora bradava impropérios, mas nada o demoveu. Em cada fósforo aceso, um pensamento que fitava com atenção, como se o pensamento se materializasse no arder lento. Como se o acender de um fósforo atenuasse a sua dor escondida e, simultaneamente, avivasse a memória com o calor de quem tudo suportaria.
Ao fim da noite, voltou para casa, frio, encharcado, e dormente. Acima de tudo, só.Vendes um sorriso
Compras um quarto do céu
Mas a verdade é escrita
No corpo dos teus irmãos...
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