Partiu o relógio na véspera de matar a distância. Decidiu que o iria esperar ao comboio, ele que traria nos ossos quilómetros e saudades. Ela, que saberia confortar a carne mas não a alma. De joelhos, cortou-se ao apanhar do chão os pedaços de vidro que lhe dirão a hora certa para estar na linha invisível das horas. Onze menos um quarto. Um quarto para as onze. Num dia de Março. O relógio não mede tempo, conta quilómetros. Palpitações, saudades, das que se não querem nunca mais sentir. E o comboio que o trouxer terá de o levar de volta. Os risos desaparecem-lhe da carne, apenas sossegam o peito enquanto a dor da morte da distância fica, haja luto. Haja dor, haja pranto, haja luz e sombra, ela ficará no cais... apenas o braço do coração se levantará para acenar.
A corda ainda prende o pé, mas eu já fugi daqui tantas vezes que não sei se vou voltar.
Não tirei fotos porque quero lembrar que ainda é cedo ou muito tarde para me vires buscar.
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