Contou os passos e perdeu-se a meio da conta. Foi surpreendida pela abertura do céu, pelo ar que teimava em abrir-lhe os olhos e mostrar-lhe um azul puro incandescente de rosa quente a esvair-se em noite breve. Os passos pareciam quase risonhos, enquanto sentiu o abraço do dia. Entendeu finalmente o fim. Quase parecia que todas as peças se haviam combinado para esse único momento de luz, pura e desprendida.
A estrada pareceu-lhe cheia de coisas novas prestes a serem descobertas, e o sorriso que se instalou não era apenas um repuxar de lábios, mas vinha e jorrava das marés do coração, calmas pela compreensão quase nirvânica. Era a paz... Intangível e quimérica, mas era a paz.
O fim. Pegou na extremidade do ponto final, sentiu-a entre os dedos, reconheceu-lhe o rosto, os olhos que já tudo haviam dito e que agora se remetiam à trivialidade. Afagou o ponto final, que afinal era um ponto final nesse amar cheio de distância. Esquece-me, tinha-lhe dito ele. Nunca, respondera-lhe ela. Mas hoje, esse nunca rodopiara no ar e fez-se concreto, não em esquecimento, mas em aceitação. Era um nunca não de não amar, mas de não poder. Colou o ponto final numa parede azul, cheia de fotografias verdes e vermelhas, rugosa e a chamar a felicidade. Disse-lhe adeus, enquanto as últimas lágrimas se confundiram com um sorriso.
E o melhor é que aprendi
A minha luta é por aqui
Voltamos a pisar o chão
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