Veio a noite, e depois a manhã. Era o primeiro dia. De muitos outros que o antecederam.
Mordeu o lábio na incerteza de uma história começada e passada na total escuridão. Viu o filme na sua cabeça, de dois náufragos lutando veementemente para alcançar a luz de uma terra que se quis sagrada e foi afinal envenenada.
Tocou à campainha, uma e outra vez. A porta verde não se abria, e tudo ali lhe parecia um sinal de desistência, de baixar braços, de desistir de nadar. Mas esperou um pouco mais, olhando as suas mãos. Tantos abraços que já tinham dado, e esboçou um quase sorriso.
Sentou, voou, gritou, esperneou, deitou a língua de fora. Recortou tiras de papel e distribuiu. Afixou desenhos, recebeu desenhos. Colheu sorrisos e beijos. E ovos da Páscoa. Voou para longe da solidão.
Veio a tarde. A despedida. O fim do primeiro dia. E mesmo no fim, um grito ecoou, mamã, mamã. Um sorriso aberto, um riso estonteante, um calor no centro do corpo e uma felicidade indizível. Abriu a porta verde. Pegou-lhe ao colo, mas sentiu-se levada ao colo.
quando penso no futuro
o denso fica mais denso
e prefiro
prefiro deixar de pensar
e nadar para outro lado do mar
Só para alertar que os comentários estão de volta! Finalmente :D