Acordou sufocado em si mesmo, e escondeu-se debaixo do lençol. Meio a medo, ou todo a medo, ergueu a cabeça para confirmar que ninguém dera por ele.
Doía-lhe a cabeça da insónia durante o sono, do sono durante a noite, os olhos rebentavam de tanto latejar.
Percebeu que afinal ainda dormia, acordado. Não viu o sol da manhã, apenas sentiu o frio da neve inesperada que o rodeou subitamente. Apenas branco nu à sua volta, e a voz presa no fundo da garganta arranhada. Não viu antes, não via agora, que o gelo lhe queimava os olhos, se os olhos quisessem ver para fora do corpo.
Era como nos filmes, nos documentários, nos pesadelos. Apenas o branco rugoso da neve verdadeira se estendia por onde a vista poderia alcançar. Sentiu que todo o planeta gelada, toda a vida morrera, e apenas restava ele, moribundo. Com o corpo dormente, já a dor não o alcançava. Procurou as mãos, sempre as mãos, apertou-se uma contra a outra, abraçou-se, mas não se sentiu mais vivo por isso.
Então soube. Sempre soubera.
Primeiro um fio, ténue e quase vivo, escorreu de si. Fechou os olhos e deitou-se, enquanto as golfadas se tornavam mais puras e mais fortes. Deixou-se ir, enfraquecendo enquanto esboçava um sorriso de paz. Tentou sonhar, mas lembrou-se que este era o seu pesadelo tornado real.
Finalmente, morreu. À sua volta, a neve tornara-se vermelha. Foi quando começaram a chegar os mudos.Estranha forma de acordar
Que é estar pronto para dormir
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